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Reportagem da NEWSTATESMA...

Sábado, 25 de Outubro de 2008

Reportagem da NEWSTATESMAN

 

 
“Ficando” com a Umbanda
 
Tom Quinn
Publicado em 14 de Julho de 2008
http://www.newstatesman.com/religion/2008/07/pai-pedro-umbanda-portugal
 
TRADUÇÃO DO ORIGINAL
 
Coisas que amedrontam na noite.Tom Quinn viaja para Portugal para ganhar experiência, em primeira-mão, da religião tipo vudu da Umbanda, que tem as suas origens no Brasil, em África e no Catolicismo. 
 
Não foi senão quando estava numa esquina de Lisboa, na semana passada, que me apercebi como tinha tão pouca informação sobre o António, o homem que, supostamente, me deveria ter apanhado há cinco minutos. Sabia somente que ele era A – homem e B – praticante de Umbanda, uma religião tipo vudu, que é originária do Brasil.
 
António, de acordo com os planos que tínhamos feito o dia anterior, levar-me-ia ao Templo Sagrado de Umbanda de Portugal, onde eu assistiria a dois rituais levados a cabo pelo seu proprietário, o Babalorixá Pedro de Ogum, ou, simplificando, Pai Pedro. 
 
Graças aos meus dois anos trabalhando com Umbandistas no Brasil, esperava um pacóvio (caipira) que pudesse sugerir que eu viajasse na caixa de carga de um camião junto com as galinhas, mas a impressão saiu pela janela fora quando o meu contacto encostou num Fiat novinho e se apresentou num Inglês perfeito. 
Depressa me apercebi que o António, um engenheiro que fala oito idiomas, era novo na Umbanda, tendo sido apresentado pela mulher, Iara, há só alguns meses.
O que me intrigou, contudo, foi a maneira como ele falava de uma crença que seria descartada como ridícula em muitos círculos. 
"Umbanda é a religião mais completa que já encontrei, e acredite-me, estudei muitas delas” disse ele. “ Levei muito tempo a conhecer os prós e os contras da Umbanda antes de começar, e é isto que faz sentido para mim. É espantoso. Você verá.”
 
Trinta minutos mais tarde chegámos a um edifício comum que poderia passar por um confortável “bungalow”. Estava situado no meio de um jardim impressionante com plantas exóticas e cachoeiras, tudo, foi-me dito foi escolhido para apaziguar as entidades aqui invocadas.
 
Fomos cumprimentados entusiasticamente pelo Pai Pedro, um homem vestido de branco nos seus trintas e tais anos, extremamente parecido com o Randy Quaid  por volta de 1989. Determinado a ensinar-me tudo o que há a conhecer sobre a Umbanda, Pai Pedro deu-me um curso intensivo na matéria. Tentei acompanhar mas, horas mais tarde ainda quase não sabia a diferença entre um Exu e uma Pomba Gira. 
 
“Umbanda é tudo sobre ajudar pessoas”, explicou Pai Pedro. “Voltamo-nos para os espíritos para buscar soluções para os nossos problemas. A natureza dos problemas determina qual espírito invocamos.”
 
No fim da nossa conversa, os seguidores do Pai Pedro ou “filhos”, tinham chegado. À medida que os observava cumprimentarem-se uns aos outros tal como pessoas de alta sociedade num chá de bebé, notei, de novo, que essas pessoas não eram definitivamente a escumalha da sociedade que vinha sacrificar galinhas nas favelas do Rio. Eram sim comerciantes e bancários, professores universitários e psicólogos. Senti-me um pouco pateta sendo a única pessoa presente sem ter uma pós graduação.
 
O convívio continuou até todos terem mudado de suas roupas comuns para roupas brancas semelhantes às do Pai Pedro. Logo que todos ficaram prontos, entramos no Templo e formamos um semicírculo à volta de um altar branco, rodeado tanto de artefactos africanos como católicos e vigiados do alto por uma estátua de Jesus, em porcelana, com os seus braços estendidos como se nos abraçasse.
 
O altar ilustrava, contanto que sem intenção, a história da Umbanda, que começou em África e foi trazida para o Brasil pelo comércio de escravos. Forçados a converterem-se ao Catolicismo, os escravos, em vez disso, incorporaram os Santos Católicos na hierarquia existente dos Espíritos Africanos, criando assim uma religião monoteísta que está tão ligada ao Vaticano como ao Congo.
 
De começo nem um alfinete se ouvia cair no chão da sala, mas logo começaram o rufar dos atabaques e os cânticos que estremeciam as paredes e o chão da pequena sala até parecer virem de todo o lado e de lugar nenhum ao mesmo tempo. A música, combinada com as danças da congregação vestida de branco, quase me fizeram oscilar para trás e para a frente em uníssono.
 
Subitamente uma mulher começou a tremer como uma máquina de lavar estragada e encravada na hidro-extracção. Ela era uma médium, foi-me dito, uma pessoa que emprestava seu corpo a uma entidade para dar conselhos sobrenaturais aos presentes através de conversas de um para um tida um pouco de lado. Em breve descobri que enquanto incorporada, ou possuída, a voz, postura e maneiras da médium mudam, presumivelmente porque o espírito está com o controle completo do corpo do indivíduo.
 
Aqueles que não estão ainda suficientemente desenvolvidos espiritualmente para agir como médiuns também podem receber entidades, apesar de geralmente não terem o controle e a capacidade verbal dos seus companheiros mais desenvolvidos. Em qualquer dado momento quase todos cederam, contorcendo seus corpos numa posição estranha após a outra, batendo incessantemente os pés no chão ou rodando furiosamente, com a mentalidade única de um cachorro perseguindo – e apanhando – a própria cauda.
“A entidade está tentando experimentar o corpo “, explicou o Pai Pedro. “Pense como se estivesse a experimentar um casaco novo. Veste-o e depois quer mexer-se lá dentro e ver como se sente”. 
 
Quando estávamos preparando os detalhes da minha visita, o Pai Pedro insistiu que eu visitasse o Templo duas vezes: a primeira para assistir a um ritual de “direita”, como o descrito acima, que invoca entidades que representam as qualidades positivas da humanidade, e de novo para um ritual de “esquerda”, que envolve a utilização daqueles espíritos que personificam os nossos vícios, para livrar a congregação da energia negativa. 
“ Nós precisamos de ter um balanço em todos os aspectos das nossas vidas,” disse Pai Pedro. “Nós não podemos pretender que essas qualidades não existem. Nós temos que as aceitar e é assim que o fazemos.” 
 
Ele esperou pelo cair da noite para começar o ritual de esquerda, o que fez parecer o evento da noite anterior tão estranho como um círculo de costura. As luzes cobertas de celofane banharam a sala numa luz vermelha o que acentuou as mudanças de decoração que o Pai Pedro tinha feito desde a minha última visita. A figura de Jesus tinha sido substituída por uma grande estrela de oito pontas, e as janelas e paredes cobertas por tecidos vermelhos e pretos brilhantes. Abundavam os tridentes estilizados assim como as velas negras e oferendas de alimento para as entidades. Os crentes, todos ricamente vestidos ainda que provocantes, adoptavam o esquema de cores o que dava ao evento um sabor gótico, tipo Tim Burton. 
 
“Os (espíritos femininos) nestas paragens são muito sexuais, muito sensuais,” explica o Pai Pedro antes dos atabaques e os cânticos começarem. “Nós sempre temos o cuidado de comprar só as roupas que as entidades querem. É um dos modos dos espíritos se expressarem.”
 
Este ritual tinha três médiuns canalizando entidades, apesar dos encontrões e resmungos com um sócio invisível terem largamente substituído os tremores e o rodopiar da noite anterior. Numa dada altura, um caiu no chão, para somente jogar a sua cabeça para trás num ataque de riso histérico. Todos os três passaram as próximas duas horas fumando cigarros, bebendo champanhe e jogando os seus “olhares sedutores” a qualquer um que estabelecesse contacto visual. Também davam conselhos, muitas vezes sem serem pedidos pela outra parte em questão. Uma entidade, aparentemente sentindo a minha inaptidão crónica em manter uma namorada, deu-me uma rosa vermelha para me ajudar a agarrar “a mulher de quem eu mais gosto.” 
 
Mais uma vez os outros crentes emprestavam periodicamente os seus corpos ás entidades próximas, mas em vez de estremecerem e baterem com os pés no chão, a maior parte das mulheres tinham a tendência de dançar sedutoramente enquanto que os seus colegas masculinos alternavam entre uivos e gargalhadas maníacas. 
Ocasionalmente uma entidade pedia um charuto ou uma bebida alcoólica, e havia à mão bastante das duas coisas para satisfazer os seus desejos. 
 
Em seguida ao ritual Dionisíaco eles conversaram fora do Templo até bem depois da meia-noite, enquanto aguardavam que as suas cabeças clareassem e que as suas forças voltassem. Eu estava exausto quando, finalmente, voltei ao meu hotel por volta das 3 da manhã, mas a minha cabeça, ainda ás voltas, tornou o meu sono difícil. 
 
Ao longo dos anos eu vi Deus / deuses serem adorados de todas as maneiras diferentes. Senti o peso da culpa do Catolicismo e tive o demónio dos Mormons tirado de mim por evangélicos de boas intenções mas totalmente com “falta de um parafuso.” De uma vez participei mesmo num serviço encharcado dos “Surfistas em Cristo”, mas nunca tinha visto um grupo que apreciasse a sua religião tanto como os Umbandistas. 
 
Apesar de ter achado partes dos rituais estranhos e até mesmo aterradores, os efeitos positivos que eles tiveram na congregação foram inegáveis. Aqueles que chegavam cansados e estressados depois de um dia de trabalho, saíram em forma e relaxados. Enquanto que algumas pessoas religiosas (eu incluído) procuram activamente escapar a um serviço na igreja, estes Umbandistas contorcem-se para evitar faltar a um ritual. 
“Estou aqui todas as semanas, pelo menos uma vez por semana,” disse um membro. “Se fico preso no emprego e não posso vir, fica tudo descontrolado. Parece que alguma coisa está faltando.” 
 
Pai Pedro sabe quão importante o seu Templo é para aqueles que frequentam os rituais e está absolutamente convicto de uma mudança de carreira, no meio de sua vida, simplesmente não está nas cartas.
 
“Há pessoas que contam comigo para estar aqui quando necessitam de ajuda,” diz ele. “Eu simplesmente não posso encerrar e mudar-me mesmo que quisesse. Este é definitivamente um chamamento de uma vida inteira que me foi dado, e eu sinto-me bem com isso. Não há nada que eu preferisse estar fazendo.”
 
Créditos: Tradução livre de António C. Correia em 14.08.2008.
 
 
 

 

publicado por Pai Pedro de Ogum às 10:13
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