Sempre que falamos em experiência religiosa do Homem perante o mundo, estamos, no fundo, a falar da experiência do sagrado. Ou seja, de uma divisão do mundo em dois níveis: o sagrado e o profano.
Estamos a falar de uma divisão artificial, obviamente, que só se passa na cabeça das pessoas.
O domínio do sagrado será sempre aquele que se refere à divindade (em muitos e diferentes sentidos) e ao Homem enquanto espírito, ao intemporal, ao perfeito e superior; o profano estará sempre associado ao que se refere ao Homem enquanto corpo, ao mundano (que se refere ao mundo terrestre), ao percepcionável pelos sentidos e razão humana e ao imperfeito.
O sagrado está sempre associado a sinais, rituais, que o Homem reconhece como manifestações de Deus; o Homem tem que respeitar (ou até venerar) o sagrado, aí está protegido.
Relativamente á Umbanda, a Verdade é revelada pelas Entidades e pelos Orixás, que com as suas diferentes energias, e graus de Sabedoria nos transmitem verdadeiros ensinamentos para encontrarmos realmente o Sagrado na nossa vida do dia a dia, e conseguirmos andar com mais facilidade no caminho da nossa vida, que por vezes se mostra cheio de pedras e cinzento, e outras vezes se apresenta liso, harmonioso e colorido.
É desta forma, que se levanta a questão da fé e da razão:
Se acredito, Se tenho fé, então estas verdades são infalíveis e indiscutíveis porque me são reveladas por um Ser infinitamente superior ; se procuro racionalizar ou pensar racionalmente nos conteúdos das transmissões que as Entidades nos indicam como caminho , então chego muitas vezes a contradições que não posso resolver.
A fé é uma crença absoluta na existência de determinado facto, é uma convicção íntima, é a primeira das virtudes teologais, graças à qual acreditamos nas verdades reveladas por Olorum (Deus).
Muitos filósofos medievais, como S. Tomás de Aquino, tentaram conciliar o domínio da fé e da razão. Ao interpretar os enunciados bíblicos, racionalmente deveríamos chegar a Deus, provar a sua existência e a Verdade da sua palavra;
todavia, esta via racional encontra inúmeros obstáculos.
Assim, muitos autores partilham da opinião que só pela fé nos encontramos com Deus, ou seja, temos
que acreditar. Curiosamente, não temos conhecimento de sociedade humana que não atribua o domínio sagrado a alguma coisa; todas têm lugares sagrados, épocas sagradas, rituais, acções, etc.
Apesar de alguns filósofos defenderem a dessacralização do mundo e da modernidade estar associada a uma negação do sagrado através da ciência (veio explicar racionalmente coisas que eram atribuídas a Deus e consideradas sagradas), esta noção de sagrado não deixa de existir, pois aproxima o Homem da sua ideia de Deus e torna-o mais digno, mais "importante".