Quinta-feira, 12 de Maio de 2011
Outro dia estava me lembrando de uma história que presenciei há muito tempo...
Uma senhora que hoje é uma iyalorisa conhecida, emprestava algumas de suas roupas para os funcionários de sua casa irem com ela nas festas de religião, na condição que eles dissessem que eram filhos de santo dela.
Essa loucura explica a que ponto uma pessoa pode chegar para demonstrar que tem um grande número de filhos.
Vamos falar de um assunto que todos conhecem bem, os filhos troféus, iniciados que servem de adorno na coroa de sua majestade (a vaidade de ser sacerdote) coisa muito comum nos dias de hoje.
Vocês acham estranha a minha afirmação?
Em um mundo, onde quase tudo é aceitável, onde status e beleza viraram religião e o número de filhos, é sinónimo de asé,
acredito que algo aqui deve ser mudado,porque eu não concordo que um número grande de filhos é sinal de asé, só não consegui encontrar a palavra certa, para definir isso, não sei se é vaidade ou ignorância.
Nada mais poderia ser estranho, que colecionar seguidores,e não formar iniciados,isso parece até brincadeira.
Bem amigos, vamos ser sinceros, tudo começa com a iniciação do troféu, primeiramente a roupa da sua saída, deverá ser digna de um rei ou rainha, ou será que o dono da casa vai querer mostrar a simplicidade de um orisá?
Não, ali, é seu momento, e através daquela situação que ele vai encantar o público.
Fora da realidade, com todo o seu orgulho, divulgará aos olhos da ilusão, a continuação de um ritual, onde a preocupação é o luxo e a necessidade de apresentar para aquela casa, mais um membro, ou seria apenas mais um número, ou mais um troféu?
Hoje, o que vemos, por ai, não são casas preparadas, preocupadas em colocar os filhos em sintonia com o orixá, mas o iniciado em sintonia com as necessidades da casa,ou a vaidade do sacerdote, buscando ali apenas elevar os números de filhos, onde a satisfação não esta no orisa,mais sim na quantidade de pessoas iniciadas ,ou no número de pessoas dançando no barracão.
Essas coisas se tornaram hábito em muitos lugares, graças ao Orisa não virou uma regra,ainda temos sacerdotes honestos.
Em alguns lugares chega ao ponto que isso é tão importante, que ao chegar na casa, é sempre enfatizado a “necessidade de ser iniciado no orisa”, e à medida que o tempo passa, a pessoa que ainda não se submeteu ao ritual, começa a ser vista com um certo desprezo.
Por que?
É amigos, precisamos mudar alguns conceitos dentro do culto aos Orisas; Orisa é pé no chão, é simplicidade, não é números, e sim a qualidade e não a quantidade.
É a capacidade de transformar,é a força da fé, é a verdade nua e crua, é a realidade; não aceito mais a ilusão, não vou compactuar com a mentira a mediocridade e a ignorância que se instalou.
Bàbàláwo Ifágbaíyin
Terça-feira, 17 de Março de 2009
RITUAL DE PASSAGEM, INICIAÇÃO NA UMBANDA E CANDOMBLÉ
1 - A feitura da cabeça no Candomblé
Ser iniciado no candomblé é mais conhecido como "fazer a cabeça", ou seja, ser preparado para que o Inkice/Orixá passe a habitar no Ori/mutuê (cabeça) do novo adepto.
O ritual começa muito antes do recolhimento, pois o aspirante a iniciação passa por uma fase conhecida como abiã onde ele prepara o seu enxoval para a feitura, que consiste em roupas e demais materiais ritual. Prepara também o aqué/zimbo (dinheiro) para o pagamento do "chão", ou seja, o trabalho que este ritual implica e a transmissão do axé .
O noviço passa por vários rituais de limpeza, pelo ritual do bolanã (representa a morte para omundo profano e o renascimento para o mundo sagrado dos Orixás) e depois pelo recolhimento para o roncó (Quarto Ritual, com acesso somente aos iniciados), onde passará de 07 a 21 dias de iniciação.
Após os 21 dias acontece a festa do Oruncó (a cerimônia do nome, quando a Divindade se identifica na presença de todos) da(o) Iaô/Muzenza (recém iniciado) quando a mesma é apresentada à comunidade de santo como o mais novo membro. É um momento de festa onde todos usam as melhores roupas, recebem os membros ilustres de outros terreiros e demais visitantes. É um ritual público de grande emoção.
Depois da festa, no dia seguinte, tem a festa da quitanda de erê/vungi(criança). Nela o iniciado sai para o barracão em estado de consciência infantil. Brinca, come, recebe presentes e tem a quebra das quizilas, ou seja, momento que o iniciado passa por ritual que consiste em uma reiniciação ao mundo profano e reaprende a fazer as atividades diárias e rotineiras. Esta passagem é importante para que não haja choque entre este e o seu orixá/inkice, uma vez que o iniciado, daqui por diante passa a viver plenamente em contato com a divindade e, todas as suas ações podem ter reflexos no dia-a-dia.
O iniciado então, entra em um período de preceito. São três meses que ele usa os colares e símbolos do seu santo/orixá/inkice, veste-se completamente de branco, mantém a cabeça coberta e não lhe é permitido a prática sexual e muitos outros preceitos lhe são impostos. Essa fase é uma das mais importantes, pois agora o iniciado tem a responsabilidade de guardar os seus preceitos e as responsabilidades para com a casa de santo.
A "feitura da cabeça" é considerado um ritual de passagem de grande importância, pois a partir deste o iniciado passará por muitos outros durante a sua vida de culto, em que galgará direitos e posições dentro do culto. Porém, esse período, que consiste a feitura e a guarda dos preceitos, é o principal e que todo iniciado guarda na memória por toda a vida aqui no aiyè. Será objeto de histórias que serão contadas aos seus filhos, netos, aos seus futuros irmãos de santo e quem sabe, filhos de santo.
Cada pessoa é filho de um determinado orixá/inkice, ou seja, aquela energia é a linha magnética da sua vida e a feitura vai proporcionar o equilíbrio do ser humano com a sua energia mais pura e mais espiritualizada. É o que se chama de santo de cabeça. Geralmente cada pessoa possui um pai, em primeiro lugar e uma mãe em segundo ou vice-versa, ou seja, um santo de princípio masculino e outro de princípio feminino, podendo haver exceções de dois princípios iguais. A cabeça do filho também é composta por um séquito de orixás, que compões toda a sua história e é revelado através do Oráculo mais conhecido no Brasil, que é o jogo de búzios, por onde os orixás/inkices falam e dão os seus recados aos habitantes da Terra.
No candomblé todos têm o seu santo de cabeça, ou seja a sua energia primordial, porém, nem todos são obrigados a passar pela iniciação. Não há como se fugir dessa energia, uma vez que ela é o princípio vital de todo ser vivo.
2 – A Camarinha de Umbanda.
A Camarinhas na Umbanda são Rituais Iniciáticos que têm como fundamento prático, o Desenvolvimento Mediunico, Religioso, Doutrinário e Ritualístico, para que o neófito, possa adquirir conhecimento e prática de todos os fundamentos praticados na Umbanda.
No seguimento da Tradição Afro, a Umbanda consagra também ritualísticamente os neófitos, com Camarinhas de Obori ou Borização, que é o Assentamento Maior das Entidades no Médium, para que os mesmo se possam fortificar e evoluir Ritualísticamente. Além de outros Rituais necessários ao Desenvolvimento Mediunico , Ritualistico e Doutrinário dos neófitos.
São Camarinhas que têm uma duração de 3 ou 7 dias, isso de acordo com o Dirigente Espiritual ou de acordo com os rituais necessários.
Bibliografia: União Umbandista dos Cultos Afro Brasileiros/Pai Pedro de Ogum