N A Ç Ã O A N G O L A
(Parte 2)
Tenho recebido vários opniões sobre vários temas, que gostariam que eu realizasse algumas pesquisas de determinados temas.
Como a nossa história portuguesa está demasiado ligada á Africa, mais propriamente a Angola (País e Nação de Candomblé), resolvi realizar algumas pesquisas que poderão auxiliar ao um melhor conhecimento de determinadas raizes da Religião da Umbanda.
N A Ç Ã O A N G O L A
(Parte 1)
KIMBANDA e QUIMBANDA
Escrito por Edmundo Pellizari
(Ras Adeagbo)
Kimbanda significa algo como "curandeiro" em kimbundu, um idioma bantu falado em Angola.
O kimbanda é uma espécie de xamã africano.
O ofício do kimbanda é chamado de "umbanda"... Todos já ouvimos essa palavra por aqui.
Quimbanda é um culto afro-brasileiro com forte influência bantu e muito influenciado pela magia negra européia.
Kimbanda e Quimbanda se confundem, mas são cultos distintos e com objetivos diferentes.
O kimbandeiro é um membro ativo de sua comunidade, um doutor dos pobres e intérprete dos espíritos da Natureza. Ético, ele sempre trabalha para o bem, a paz e a harmonia.
O quimbandeiro é um feiticeiro. Normalmente vive afastado, não se envolve socialmente.
Na África, o kimbandeiro faz a ponte entre os Makungu (ancestrais divinizados), os Minkizes (espíritos sagrados da Natureza) e os seres humanos.
Ele entra em transe profundo, incorpora os seres invisíveis que consultam os necessitados e os aconselham na resolução dos problemas. Os espíritos no corpo do kimbanda falam, fumam e bebem.
Como autêntico xamã, ele sabe que a mata é um ser vivo que respira, come e sente.
Ela é densamente habitada por diversos tipos de entidades, que transmitem seu conhecimento aos sacerdotes eleitos.
Alguns destes seres se parecem a "duendes".
Eles tem uma perna só, um olhos só ou falta algum braço.
Moram dentro da mata e podem cruzar o caminho de algum caçador.
Um Ponto Cantado para os exus na Umbanda, diz:
"Eu fui no mato, oh ganga!
Cortar cipó, oh ganga!
Eu vi um bicho, oh ganga!
De um olho só, oh ganga!"
Ganga vem de Nganga, um dos nomes pelo qual o kimbanda é conhecido.
Nosso querido Saci Pererê é um deles.
Ele usa o filá (gorro) vermelho dos kimbandas, o cachimbo dos pretos velhos e o tabaco dos caboclos!
O quimbandeiro centra seu trabalho na figura de Exu, que é um Orixá yoruba e não um Nkizi bantu.
A entidade que se assemelha a Exu entre os bantu é chamada de Aluvaiá, Nkuvu-Unana, Jini, Chiruwi, Mangabagabana e Kitunusi dependendo do dialeto e da região.
Aluvaiá pode ser "homem" ou "mulher" e sua energia permeia tudo e todas as coisas.
Ele se adapta muito bem à noção umbandista de exu (entidade masculina) e pomba gira (entidade masculina).
O quimbandeiro também invoca e incorpora as entidades associadas ao culto do magnífico Orixá Exu, os exus e pombas giras.
Pode haver sincretismo com nomes como Lúcifer, Asmodeus, Behemoth, Belzebu e Astaroth da Cultura Européia.
A visão das entidades também pode mudar... O kimbandeiro invoca as almas dos antigos
Tatas (pais espirituais ou sacerdotes curandeiros) e Yayas (mães espirituais ou sacerdotisas curandeiras).
Estas almas transcenderam o limite da materialidade e da ignorância.
Elas possuem bondade, conhecimento e luminosidade.
Algumas não precisam mais encarnar, pois, já evoluíram o suficiente neste mundo.
O quimbandeiro invoca almas de entidades que em vida foram feiticeiros, malandros, mercadores, homens ou mulheres comuns, etc...
Na África o sangue é um elemento sacrificial.
O kimbandeiro oferece um animal a uma entidade, prepara a carne e entrega a primeira porção ao espírito.
O resto do animal, que se tornou agora alimento, é compartilhado com a comunidade se isto acontece em data festiva.
O quimbandeiro, não está interessado em "sacrificar" (tornar sagrado), ele está preocupado com os poderes mágicos do sangue, vísceras e couro do animal. Portanto, teologicamente falando, ele não sacrifica.
As imagens utilizadas no culto do kimbandeiro são feitas de pedra, madeira e barro.
Os artesãos procuram modelar as entidades da Natureza de forma natural e simples.
A imagem é consagrada cerimonialmente e uma porção do espírito da entidade passa a habitar a efígie.
Na Quimbanda, na maioria das vezes, são utilizadas imagens de gesso que representam os espíritos aliados.
Comumente estas imagens tem aspecto avermelhado, podendo ter chifres ou não.
O kimbandeiro é um agente social.
Ele depende da comunidade e a comunidade depende dele.
Quando aceita um pagamento para seu trabalho, ele retira do mesmo a sua sustentabilidade.
Todo mundo sabe e pactua com isso.
Não existe abuso.
Trocas de mercadorias e favores podem substituir o dinheiro como pagamento.
As pessoas empobrecidas são atendidas sem nada precisar dar em troca.
As vestes do xamã bantu são normais e naturais.
Quando está trabalhando usa filá, guias de sementes, cinturão com amuletos e roupas sóbrias.
Três são os pilares do kimbandeiro: amor, honra e caridade.
O universo da Kimbanda é composto por tês mundos que se interpenetram:
o mundo celeste onde moram os espíritos celestiais e originais (alguns Minkizis e ancestrais divinizados), o mundo natural habitado pelos homens e pelos espíritos da natureza (elementais) e o mundo subterrâneo da morte e dos ancestrais.
O médium na Kimbanda é um canal entre os espíritos e os que precisam dos espíritos.
Ele é um instrumento mágico, um servidor da humanidade que pratica um transe profundo,
pois, somente adormecendo o ego o divino pode fluir.
Os espíritos utilizam o médium com gentileza e cuidado, sem esgotar suas reservas de energia psíquica.
A Umbanda, certamente, bebeu das águas tradicionais da Kimbanda.
Os negros bantus trouxeram sua herança espiritual, legítima, luminosa, ecológica e antiqüíssima.
Oremos para que as antigas almas dos Tatas e Yayas nos ajudem a separar o trigo do joio.
Nzambi primeiro!
Nsala Malekun!
Depois de lançada a semente divina e as religiões afro-brasileiras prosperarem e se expandirem; depois de tantos terreiros e casas de culto terem sido criados, e tantos flhos terem sido iniciados nos vários cultos aos Orixás, e terem sido encaminhados para o caminho da luz que leva até ao Criador; depois de tanta gente ter encontrado ajuda nos rituais e consultas, com as várias entidades que servem e trabalham incansáveis nos terreiros, seguindo também assim o trilho da evolução; depois de tantos Babalorixás e Yalorixás terem sido consagrados, e divulgarem o nome dos Orixás e dos vários cultos além fronteiras, Zambi (o Criador) de tão contente que estava, quis saber realmente o que se passava dentro desses maravilhosos rituais, que usam a sua bandeira. Então pediu a Oxalá que encarrega-se Exu de escolher um dos muitos terreiros existentes, assistir aos seus rituais, e lhe transmitir na integra tudo o que se passava, para que através de Oxalá pudesse ser confirmada a veracidade da grandeza desses filhos de fé.
Então Exu, depois de receber o pedido de Oxalá, foi á procura de um terreiro, e sabe-se lá o porquê, escolheu determinado local, e com determinado dirigente que não é permitido divulgar. Ao chegar, entrou com facilidade no ritual, pois com surpresa sua, nem sequer qualquer tipo de segurança havia, tudo o que encontrou a rondar o terreiro eram apenas kiumbas que se faziam passar por todo o tipo de entidades, nada mais. Deparou-se então com o dirigente espiritual, que nem sequer ordem tinha para dirigir qualquer tipo de ritual, e sem qualquer critério agregava filhos para a sua casa, pois só lhe interessava os números e que a sua popularidade aumentasse. Viu também serem cobradas avultadas quantias pelos supostos trabalhos para ajudar os filhos da casa, e as pessoas que iam em busca de ajuda. Favores sexuais em troca, também eram comuns. Nessa casa habitava a promiscuidade e o incesto entre os filhos. Entidades de esquerda eram usadas para conseguir favores sexuais, estas que nem sequer Exu e Pombagira eram, mas sim kiumbas que se faziam passar por tal. Os filhos dessa casa não tinham amor nem ás entidades, nem aos Orixás, tinham antes interesse no que poderiam obter através deles. O respeito pelo sagrado ritual, pelos Orixás, e pelo Criador, havia-se perdido totalmente, ficando apenas em troca, todos os mais variados tipos de vicios.
Exu nem queria acreditar em tamanha desgraça, mas se ria imenso mesmo assim, e apesar da sua enorme tristeza interior, pois não tinha coragem de contar a Oxalá o que via, e ver seus olhos tristes e desiludidos.
Então Exu, partiu em busca de um outro terreiro, na esperança de poder levar melhores noticias a Oxalá. Encontrou um outro (que também não é permitido divulgar), e este sim, tinha um dirigente devidamente ordenado e consagrado pelos Orixás, com ordem para dirigir o ritual e seu terreiro. Mas, e apesar da disciplina imposta, do desejo de seguir as leis divinas, e do amor e carinho por Zambi, pelos Orixás, pelos seus guias e entidades que incorporavam em seu terreiro, muitos de seus filhos só procuravam obter e realizar os próprios desejos. Exu viu também que esses filhos, quando chegavam á conclusão que não era essa a finalidade da casa, e que não obtinham e satisfaziam rapidamente os seus interesses, estes se revoltavam contra o dirigente, saindo e abandonando o terreiro, aproveitando para despejar a sua raiva por tamanha frustração através da má lingua, inventando as mais variadas histórias e situações, de modo a rebaixar e maldizer o dirigente, a casa, e até os próprios irmãos de fé. E mais uma vez Exu ficou desiludido, e sem coragem para contar a Oxalá o que viu.
Decidiu então pedir ajuda aos outros Orixás, contando tudo o que viu, e explicando a sua difícil missão. Ogum, sendo aquele que talvez tenha menos paciência, foi o primeiro a se manifestar, e se revoltou por tamanha desordem e falta de disciplina. Xangô o seguiu, e com uma enorme força, bateu com seu machado no chão, revoltado com tantas injustiças. Iemanjá fez levantar a força dos mares. Iansã fez soprar os mais terríveis ventos. E todos, um a um, se mostraram tristes e revoltados. Todos eles estavam de acordo, que aquelas tristes noticias não poderiam chegar a Oxalá, pois nenhum deles queria ver derramadas no seu rosto, as lágrimas de sua tristeza. Combinaram então todos entre si, incluindo Exu e Pombagira, que iriam corrigir a situação, castigando dentro das leis divinas, os filhos ingratos e mal intencionados, os falsos e os irresponsáveis dirigentes espirituais, e em seguida fechar os seus templos e terreiros que não seguissem a verdadeira fé, verdade, justiça, e amor de Oxalá.
O tempo foi passando, e ainda hoje Oxalá espera pelo relatório de Exu, para poder dar as boas novas a Zambi...
Lisboa, 9 de Maio de 2010 © Paulo Lourenço “Ramiro de Kali”